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Sete lições sobre a polêmica modalidade do mergulho solo

By | Mundo Náutico | No Comments

A primeira regra do mergulho solo é: não comente sobre o mergulho solo. Muitas operadoras de mergulho adotam uma postura de “você-não-fala-a-gente-não-pergunta” quando se trata dessa modalidade. Elas até sabem que mergulhadores experientes o fazem, mas não podem anuir, pois têm que se cobrir legalmente. E não é sem razão. Muitos mergulhadores não sabem a diferença entre “mergulho solo” e “mergulhar sozinho”. “Realizar um mergulho solo significa que você tomou a decisão de fazê-lo, após ser treinado e certificado para isso. Mergulhar sozinho significa apenas que não conseguiu um parceiro para acompanhá-lo”, afirma Bart Linders, um instrutor de Bonaire, no Caribe, que já viu centenas de casos nas duas modalidades.

A conversa muda de figura, ou melhor, passa a existir, a partir do momento em que o mergulhador apresenta uma carteira — como a do programa de Mergulho Solo da SDI ou de Mergulhador Auto Suficiente da PADI —, provando que foi treinado para a prática segura dessa modalidade do esporte.

 

Lição 1
Só você pode decidir se o mergulho solo é para você.
Pergunte a qualquer fotógrafo submarino e ele dirá que o mergulho solo é inevitável. “Não sou o melhor parceiro para mergulhar”, conta Christian Skauge, um fotógrafo subaquático e editor da revista norueguesa Dykking. “Quando vejo algo interessante, posso ficar o mergulho inteiro focado nela. A maioria das duplas de mergulho se aborrece muito com isso.”

O que faz sentido. Especialmente se o mergulhador está concentrado em fazer alguma foto macro. Devido ao tamanho e configurações dos equipamentos, o melhor parceiro do mundo não conseguiria curtir a foto, mesmo que dividisse a mesma paixão por bocejos de peixes sargaço ou os hábitos alimentares dos moluscos nudibrânquios. “Consigo sentir a aflição até mesmo do melhor parceiro do mundo, quando ficamos muito tempo em suspensão durante uma foto”, diz. E, por causa disso, “acho bem mais fácil mergulhar solo, sem ter que me preocupar com outra coisa a não ser em me concentrar para conseguir tirar boas fotos. Fiz minhas melhores fotografias durante mergulhos solo”.

O resort de mergulho Wakatobi, um dos melhores lugares do mundo para fotografias macro, sabe bem disso. Como a maioria dos clientes vai para lá com o objetivo de fotografar as suas belezas naturais, o resort permite abertamente o mergulho solo, desde que os mergulhadores estejam certificados para a modalidade.

 

Lição 2
No mergulho solo não há pressão nem checagem do parceiro.
O píer Frederiksted, nas Ilhas Virgens Americanas, não poderia ser mais indicado para o mergulho solo: dá para estacionar o carro a poucos metros do local do mergulho, e as profundidades nos melhores picos raramente são superiores a 6 m. E o fato de muitos pescadores frequentarem o píer também significa que sempre haverá algum tipo de suporte. As demais localidades para mergulho na costa da ilha, não são tão protegidas, podendo apresentar fortes maré ou mar batido. Nesses lugares, os mergulhadores têm que decidir por si só se vale a pena descer. No mergulho solo não há pressão nem checagem do parceiro. É sua a responsabilidade de verificar, na noite anterior, a previsão do tempo e avaliar as condições in loco. Depois disso, avaliar suas próprias condições.

“É preciso avaliar seu grau de disposição física, se está cansado ou não. Teve uma semana difícil? Ficou acordado mais do que o normal?” pergunta Jenny Keith, uma instrutora do Blue Dive Center, em St. Croix. “Mergulhar solo significa ter que olhar para a baía e dizer a si mesmo: hoje não está bom, vou ficar fora.” Além disso, ela complementa que, “de tanto supervisionar alunos e mergulhadores em saídas, sei que, quando a situação fica adversa, problemas acabam surgindo. Usa-se mais ar com pouca visibilidade. Nas correntezas, há uma propensão maior à fadiga e às cãibras”. Se, ao chegar na baía Cane e as condições estiverem adversas, cancele o mergulho. Deixe-se seduzir pelas músicas de Jimmy Buffet e pela coqueteleira do barman do Off the Wall, que certamente virá a inspiração para um ótimo “plano B”.

Lição 3
Especialização requer treinamento e perseverança.
Mergulhar sendo levado pela correnteza, como se faz em Cozumel, é perfeito para quem mergulha solo. Raramente todos os participantes de um grupo de mergulho ressurgem ao mesmo tempo. É muito mais comum ver as pessoas determinarem sua própria agenda, estejam mergulhando em dupla ou solo. Por causa disso, os mergulhadores solo devem ter o mesmo treinamento que normalmente é dado ao guia, incluindo lançar a boia de marcação na superfície — o que, surpreendentemente, pouquíssimos mergulhadores fazem certo da primeira vez.

Don Labruzzo, instrutor do Deep Exposure DiveCenter, em Cozumel, diz que “é uma das coisas que os mergulhadores mais se complicam. Se enroscam e conseguem enrolar os cabos em volta dos seus pés, cabeça, até no nariz!”. E é algo tão importante para se aprender quanto trocar de tanque. “Mergulhar solo pode ser considerado uma introdução ao mergulho técnico”, de acordo com Don. Os mergulhadores técnicos, mesmo quando em dupla, levam uma máscara extra e um computador redundante. Qualquer coisa importante tem que ter redundância, por precaução. Nessa mesma linha, mergulhadores solo levam uma garrafa extra, carregada normalmente do lado esquerdo. Na teoria, trocar o tanque não soa muito difícil. “Mas o que é a primeira coisa que as pessoas fazem quando eles mesmos procedem com a operação?”, pergunta Don. “Qualquer pessoa segura a respiração durante a execução de uma tarefa extenuante. Trocar de tanque está longe de ser extenuante, mas muitos a percebem como tal. As pessoas têm imensa dificuldade em fazer isso sem ascender ou descender. Ganham flutuabilidade e depois sobrerreagem, afundando demais. Tenho que insistir para que façam isso com 25% da velocidade que o fariam normalmente.” E isso, assim como lançar a boia, requer prática. Don complementa que “as pessoas se surpreendem com a dificuldade das coisas mais simples”.

 

Lição 4
Esteja pronto para consertar o que der errado.
Há um motivo pelo qual Bonaire, essa ilha na costa da Venezuela, se declara o país do mergulho livre total. Claro que parte disso se deve ao fato de que lá a costa permite que se mergulhe 24 horas por dia, sete dias por semana, mas também pelo fato de o mergulho solo ser amplamente aceito e abertamente discutido. “Na realidade, promovemos bastante o mergulho solo por nossas águas”, conta o instrutor de mergulho solo do Buddy Dive Resort, Bart Linders. “Nossa ilha é especialmente adequada para a prática, já que há inúmeros pontos de saída para mergulho localizados diretamente na costa e uma infinidade de escolhas quanto ao grau de facilidade dos mesmos”, diz. Quanto mais fácil o mergulho, mais relaxado e pronto o mergulhador estará em caso de surgir algum problema — o que certamente ocorrerá. Bart prossegue: “Você tem que estar preparado para a miríade de problemas que podem ocorrer”. É alça da nadadeira que se solta ou a máscara que se perde. “Toda vez que mergulha com um parceiro, existe sempre outra alternativa. Mas quando estiver solo e perder a máscara, você tem de se sentir confortável em procurá-la sem ajuda. Em nosso treinamento, peço para os alunos nadarem um tempinho sem a máscara, por exemplo. é necessário desenvolver um maior grau de confiança para lidar com falhas de equipamentos.” Além disso, complementa, “o treinamento ajuda o mergulhador a ficar mais tranquilo. Porque tranquilidade e calma são as chaves para encontrar a melhor solução para cada problema”. É tudo uma questão de preparo. Bart sustenta que , “no fim, são os pequenos e simples detalhes que fazem a grande diferença”.

Lição 5
A solidão na natureza tem suas compensações e torna o risco mais palatável.
Mergulhar nada mais é do que passear submerso através de florestas de algas, corais e anêmonas-leque. Como uma caminhada na natureza. E a maioria de nós não pensaria duas vezes antes de fazer uma caminhada sozinho. Os extrovertidos desejariam ter alguém com quem conversar e comemorar ao chegar em algum lugar idílico, tal como o cume de uma montanha com sua vista esplêndida. Mas as recompensas são maiores do que qualquer bate-papo, que no caso do mergulho, nem mesmo é possível.

Para aqueles que curtem descomprimir do estresse diário estando sozinhos, o mergulho solo pode ser uma boa opção. “Quando mergulho solo, nado mais devagar e curto mais do que se estivesse com um parceiro”, afirma Max Monsanto, instrutor da Amigos Dive Shop, em Ambergis, Belize. Na ilha, não há a possibilidade de se fazer mergulhos a partir da costa, mas a Amigos aceita mergulhadores solo certificados a bordo de suas embarcações. A maioria dos mergulhos em Belize ocorre dentro de longos cânions, cuja conformação geográfica facilita a navegação.

“Quando estou com mais mergulhadores, fico sempre preocupado com o grupo, o que estão vendo, o que estão fazendo. Mas, quando estou solo, a minha mente desacelera e posso aproveitar e examinar cuidadosamente locais em que acredito vá achar vida marinha interessante.” Estando só, a procura de criaturas pode ser uma forma de meditação. “Quando se está solo, usa-se muito mais os sentidos, o que, para mim, aumenta bastante o prazer de mergulhar”, conta Max. E quando aquelas arraias gigantes passam por cima, a sensação é equivalente à vista do cume daquele passeio imaginário.

 

Lição 6
Mantenha a calma e continue o mergulho.
Na costa leste da Flórida, onde o Atlântico, com a sua mão pesada, faz com que quase todo mergulho seja de correnteza, o planejamento não difere muito se ele for solo. Operadoras como a Horizon Divers, em Key Largo, estão acostumadas a recolher tanto duplas quanto mergulhadores solo quando sobem à superfície.

No entanto, quando se trata de mergulhar em naufrágios, o protocolo muda. Como o barco da operadora normalmente fica apoitado nos destroços, sejam eles do USS Spiegel, o USCGC Duane ou o USCGC Bibb, caso você seja expelido por alguma forte correnteza e suba à superfície longe do barco de apoio, terá de esperar o resgate do resto da turma, antes que venham ao seu encontro. “Quando se está em dupla, um pode acalmar o outro”, conta Dan Dawson, proprietário da Horizon Divers. “Se acontecer com alguém que esteja solo, será necessário ter mais autocontrole. Quando se está só, tudo fica mais assustador… fica parecendo que não vêm nos resgatar.”

Esse tipo de situação é abordada durante o treinamento. Um mergulhador que é expelido de um naufrágio começa a agir rapidamente assim que se dá conta do que aconteceu. “No fundo, é tudo uma questão de percepção da situação”, conta Dan. “Se o mergulhador fica muito concentrado no meio ambiente e se esquece de perceber a sua situação, em um instante pode se ver em maus lençóis. E fica ainda mais complicado se não souber reagir da forma correta. Se um mergulhador for expelido dos destroços e decidir esperar até que chegue à superfície para lançar sua boia, a correnteza pode tê-lo arrastado a até 500 m do barco de apoio, tornando muito mais difícil localizá-lo”, ensina Dan. O correto é lançar a sua boia imediatamente, utilizando-a inclusive para levá-lo à superfície. Isso lhe traz tranquilidade adicional. E torna muito mais simples seu resgate pelo apoio. Na verdade, “só quando o barco de apoio está vindo em sua direção, que o mergulhador se sente aliviado”, complementa Dan.

Lição 7
O pico de adrenalina promovido pelo mergulho solo bem pode compensar o risco.
Para cada mergulhador que adota o mergulho solo pelos seus efeitos relaxantes, há um que curte esse tipo de aventura porque aumenta o seu fluxo de adrenalina. A Mike Ball Dive Expeditions dá cursos de mergulho solo desde 1997, mais de uma década antes da SDI introduzir o seu próprio curso.

O proprietário da operadora, Mike Ball, decidiu ministrar esse tipo de aula por sentir que, entre os mergulhadores experientes, havia uma boa demanda. Ele sustenta que a maioria dos mergulhadores experientes aprendem a confiar mais em seus instintos quando mergulham sem um parceiro, similar ao que acontece quando se viaja por terras desconhecidas sozinho. “Quando caminhamos em uma vizinhança diferente, conhecida por ser menos segura, o nível de atenção sobe e é bem provável que atravessemos uma rua com muito mais discrição”, afirma. A sensação de explorar os limites pode contribuir para a diversão de alguns. “Em uma ocasião em que mergulhava nas proximidades do Wheeler Reef”, conta Mike, “de repente notei uma grande quantidade de barracudas.Diminui o ritmo e discretamente chequei os controles da minha câmera. E, na sequência, me vi no meio de um barril vertical de barracudas. Não só tive a certeza de que isso certamente não teria acontecido se estivesse mergulhando com um parceiro, como apreciei o estado de excitação em que fiquei por estar só naquele momento.”
Fonte: Revista Mariner
Foto: Beth Watson

 

Após enfrentar tempestade, navegador Aleixo Belov chega a Bali

By | Mundo Náutico | No Comments

Enquanto os turistas e soteropolitanos estavam curtindo o Carnaval da capital baiana, Aleixo Belov passou a folia bem longe do agito, lá no Oceano Pacífico. O comandante atracou em Bali, na Indonésia, onde está descansando e fazendo a manutenção do barco, após enfrentar um trecho de tempestade em alto mar.

“Pegamos ventos com mais 50 nós e muita chuva, o que resultou no estrago de alguns equipamentos, como rasgos em algumas velas do Fraternidade. Os próximos dias serão para repor as energias e, depois, seguir a viagem de retorno ao Brasil”, relatou o ucraniano, que ficou conhecido na década de 80 como ‘navegador solitário’, por ser o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo sozinho em um veleiro. Clique aqui para assistir o relato de Belov.

Bali

 

Fonte: Revista Náutica